Acho que a vida de concurseira
pode ser uma afronta à criatividade. Desde que me afundei um pouco mais no
dificílimo propósito de gastar horas do dia estudando, não tenho visto muitas
coisas e o que tenho visto não me inspira estórias. De duas uma: ou a
burocracia já se inicia por aqui ou minha fonte secou!
Acontece que hoje senti saudades
de escrever. Não tenho nada pra contar, não tenho inspiração, estou escrevendo
à medida que os pensamentos me vêm à cabeça. Não é brainstorming, é só birra de escrever (mesmo que seja escrever por
escrever, pra mim tanto faz, o azar é de quem ler!).
Há algo nada glamoroso, mas muito
atraente nos bastidores de um blog. Pouca coisa me dá mais satisfação do que
polir e repolir o texto primitivo, encher o saco dele e publicá-lo mesmo
sabendo que, com certeza, tem mais erros despercebidos por entre as linhas. Aí
começa a mágica: 1 comenta, 3 leem, mais 5 leem, 7 curtem... quem está de fora
não tem noção do furor emocional que um gráfico de estatísticas de visualização
em ascendência pode causar! É disso que tenho saudade. E os acessos
internacionais então?! Que sensação maravilhosa saber que alguém te clicou em
Israel! Provavelmente são cliques errados de gringos distraídos, mas me enchem
de pseudo-orgulho mesmo assim. Confesso que meu fim da picada foi ter acessado
inúmeras vezes o Caso Crônico quando
fui ao Uruguai só pra que constasse mais um país na minha listinha de
“países que te visualizaram”. Doidices de quem escreve.
Numa tentativa de sanar o
engessamento criativo da vida concursal, criei um blog sobre isso, mas ele era
tão insuportável que não me animei a encará-lo mais. Está semimorto lá, infrutífero, sobrevivendo
apenas da minha esperança em achar graça na rotina. Mas, para que fique claro, estarei
sendo injusta se passar a ideia de que não há alegria na vida de quem estuda
pra concurso público. Mamar nas tetas do governo é incentivo para muitos, mas
eu realmente gosto de aprender coisas novas e, como tudo o que tenho visto é
novo, acabo me instigando; só pentelha a dificuldade absurda que tenho em me
disciplinar - marca indelével dos anos de livin’
la vida loca-tropical-pobre-brasileira.
Comunico: vou bancar o velho
aposentado e gastar algumas horas sentada na praça. Jogarei até xadrez se preciso
for, tudo pra ver se, saindo das minhas quatro paredes, algo me atiça. Se outra
crônica aparecer aqui em breve é sinal de que fui bem sucedida e que o período de
seca deveu-se exclusivamente à sem-graceza dos últimos tempos, senão decreto-me
em estágio criativo terminal.